Parece que a luz já deu-se por satisfeita.
Depois de ter deixado tudo muito às claras,
chegou a hora de ser tragada pela boca da noite.
Aquilo que não se demora nem sempre é breve;
o que há de ser levado, que a sombra leve,
mas com a leveza que cabe aos degradês.
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Que o frenesi do dia seja substituído pela pausa
e que o efeito que a define se afine com a causa.
Que a passagem do lume à penumbra
faça-se não somente paulatinamente,
mas, na verdade, assim, ‘palativamente’,
a ponto de podermos saborear o entardecer.
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Ali está a tarde, entre o dia e a noite,
como pés em dois barcos, mas não naufraga.
Paira, flutua, e, de maneira profunda,
funde-se com graus e degraus do instante.
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O resto de luz, que porventura ainda arde,
contrasta com réstias de penumbra da tarde,
que aos poucos chega e se aconchega.
E o dia saiu de viagem… Mas volta!
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( TEXTO: Paulo Cesar Paschoalini )
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