Literatura

ENTARDECER (ou, ‘EM TARDE SER’)


Parece que a luz já deu-se por satisfeita.

Depois de ter deixado tudo muito às claras,

chegou a hora de ser tragada pela boca da noite.

Aquilo que não se demora nem sempre é breve;

o que há de ser levado, que a sombra leve,

mas com a leveza que cabe aos degradês.

.

Que o frenesi do dia seja substituído pela pausa

e que o efeito que a define se afine com a causa.

Que a passagem do lume à penumbra

faça-se não somente paulatinamente,

mas, na verdade, assim, ‘palativamente’,

a ponto de podermos saborear o entardecer.

.

Ali está a tarde, entre o dia e a noite,

como pés em dois barcos, mas não naufraga.

Paira, flutua, e, de maneira profunda,

funde-se com graus e degraus do instante.

.

O resto de luz, que porventura ainda arde,

contrasta com réstias de penumbra da tarde,

que aos poucos chega e se aconchega.

E o dia saiu de viagem… Mas volta!

.

( TEXTO: Paulo Cesar Paschoalini )

[ Protegido por Lei de Direitos Autorais 9.610/98 ]

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